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Nunca pensei que teria depressão pós-parto.

Ao voltar para casa, agora com um novo integrante da família, os medos e inseguranças pareciam muito comuns para a nova situação.

Em pouco tempo, algo começou a dar muito errado. Esta exaustão, medos e inseguranças que pareciam comuns, começaram a tomar uma proporção inimaginável.

“Filho meu, tenha calma. Pois meu poder é tua fonte. E quando afligir tua alma erga teus olhos e cante. Confia em mim sem receio. Louve a Deus de joelhos, pois quando tu perdes a fé, teu amor me coloca em pé. Pois fraco entrego a tua sorte. É quando te faço forte. ’’ Rafaela P.

Não enxergo mais minha vida sem seu riso, sua alegria, seu chamego, seu cheiro, seu olhar, seu abraço, suas mãozinhas entrelaçadas à minha. Sua confiança em mim. Seu sono entregue em meus braços. O som da sua voz me chamando. Seus gritos implorando para que eu entenda o que você precisa. Suas artimanhas em se pendurar em minhas pernas para chamar minha atenção. O pedido de um colo para lhe confortar. Seu beijo. Ah! Seu beijo…  



Mas nem sempre foi assim. .. Gahel foi plano de Deus. Ele chegou na hora exata. Deus não erra. Gahel chegou para reconciliar, transformar e unir. Era nítido este plano para nós. A gestação foi perfeita, como nunca havia imaginado que pudesse ser. Sem intercorrências. Só alegrias. Nunca havia me sentido tão bonita e plena.


Seu nascimento foi mágico e inesquecível. A maternidade lotou de amigos e familiares nos três dias que estivemos lá. A dor da recuperação da cesárea foi imensa, mas foi suprida pelo amor latente daquele momento sublime. Amamentei tranquilamente, como se já soubesse fazer aquilo.


Ao voltar para casa, agora com um novo integrante da família, os medos e inseguranças pareciam muito comuns para a nova situação. Porém, em pouco tempo, algo começou a dar muito errado. Esta exaustão, medos e inseguranças que pareciam comuns começaram a tomar uma proporção inimaginável.


A constante necessidade de lidar com visitas, casa, ambiente novo, questões alheias, intromissões, os próprios sentimentos, os cuidados intensos com o bebê, estavam me levando à loucura.

Tristeza, choro e angústia pareciam me possuir. Nunca havia sentido nada igual, mas você tem que estar feliz. Todos estão transbordando amor e, você, afundando na dor… Num buraco escuro e fundo… Uma dor que, de início, você se recusa a sentir. Algo tão dilacerante que não há palavras para expressar a enxurrada de sentimentos contraditórios deste momento.


Um buraco sem fim. Você entrou ali e a queda é livre. Só se vê escuridão. Tenta se segurar para conseguir enxergar igualmente àqueles que estão babando de amor pelo seu filho e não há no que se apoiar. Ali, no fundo do poço é o ápice dos sentimentos que jamais, em hipótese alguma, achei que sentiria nesta vida.


Se alguém o levasse, eu não hesitaria. Sugeri entregá-lo à adoção.  Já não o queria mais. Cheguei a imaginar como seria se ele não existisse. Seu choro constante me levava à loucura. Uma repulsa na alma. Eu não o queria mais. Não queria aquela vida. Queria sumir. Fugir. Parecia um castigo. Parecia que algo muito ruim havia me possuído. Sentia-me aprisionada como em uma sentença.

Todos ao seu redor voltavam à sua vida de antes e só você que não. Experimentei a dor da solidão extrema, do aprisionamento, do desespero e do medo. Ali, sozinha, com meu filho e meus animais.

Mas você tem que estar feliz.


Em meio à minha maior desgraça emocional conheci o amor imensurável dos que estavam ao meu lado. Jamais esquecerei. Estavam ali para segurar minha mão, amar e acolher. Meu refúgio começou quando me libertei para falar dos meus sentimentos, o que me pareceu um alívio, mesmo que momentâneo. Deus conhecia  meu coração, mas eu já não me reconhecia. Precisava começar de novo. Necessitava de um novo parto. Um novo começo.

Aos 6 meses de vida, Gahel precisou passar por uma cirurgia que , à princípio, seria simples. Aí então comecei a sentir o quanto o amava. Ainda internado, ele foi infectado pela meningite. No dia de sua alta, amanheceu muito estranho e se sentindo mal.

Recusei a sair do hospital e, orientada pelo médico e enfermeiras, o observamos durante todo o dia. Ocorreram vários episódios de mal-estar sem ninguém perceber o que estava acontecendo. À noite, na visita do médico, relatei os ocorridos do dia com preocupação. No check-up ele estava muito bem, o que anulava tudo o que eu estava dizendo. Mesmo assim não queria ir embora do hospital, pois tinha certeza absoluta que ele não estava bem. Afastei-me e clamei a Deus em pensamento para que me ajudasse para eles entenderem o que estava acontecendo. Imediatamente ele se sentiu mal.


Chamamos a equipe médica e constataram que era uma convulsão. E isso ocorreu durante todo o dia sem ninguém diagnosticá-lo com precisão. Desloquei-me para um canto do quarto e em meio ao caos de todos com a notícia e a infinidade de exames que começaram a serem feitos com urgência para entender o que estava acontecendo, eu agradeci a Deus.

Não me esqueço das palavras do médico: “Nunca devemos duvidar de uma mãe. ’’ Ali começou meu resgate. Orgulhosa de ter salvo meu filho e temerosa pelo que ainda estava por vir. Estes sim, foram meus piores dias e os momentos mais fortes e corajosos que já imaginei passar.


Constatada a meningite, era preciso iniciar o tratamento imediatamente e, mesmo em hospital com atendimento particular, o início parecia não acontecer. Precisei gritar na recepção com a médica chefe para que agilizasse os exames e a vaga na UTI. Gritei muito! Como uma leoa renascida que luta pela vida de seu filho.  Em meio ao meu vazio, a visita ao inferno existencial daquele momento, um lugar frio e solitário, sem perspectiva de melhora, sentia que precisava, como nunca, conversar com Deus. Uma conversa como nunca havia tido.

Perambulando pelo hospital, apenas esperando exames e vaga na UTI, encontrei uma capela. Ali era quente, reconfortante e silencioso. Permaneci ajoelhada na capela do hospital, em silêncio, por um bom tempo. Ao sentir Sua presença pedi perdão por tudo que havia sentido em relação ao meu filho. Disse que não estava bem; que  estava doente; que não soube administrar toda aquela mudança na minha vida e que não aguentei a exaustão de trabalho constante. Ele sabia de tudo, só precisava que eu clamasse pelo meu filho e assim o fiz.

Após me reconciliar comigo mesma, pedi a Deus que interviesse na cura do meu filho. Eu o queria como nunca. Clamei a Deus para que entregasse meu filho novamente em meus braços. Que fosse renascida como mãe. Eu queria essa missão para mim. Eu queria meu filho de volta.


A vaga na UTI e os exames começaram a ser realizados. Tudo estava caminhando. Por uma linda simbologia, a vaga na UTI era de número 13. O dia que meu filho nasceu. Foram dias duros. Toda a família se uniu para que, como pais, estivéssemos descansados para cuidarmos do Gahel naquele momento. 

Uma corrente gigante de oração foi realizada, até por quem nem conhecíamos. Recebemos uma infinidade de mensagens de conforto. Tudo nos ajudou a caminhar neste recomeço. Recebemos alta da UTI e já no quarto de número 713, sorri. Tinha absoluta certeza de que dali sairíamos vitoriosos. Foram dias duros de constantes intercorrências. E vencemos! Em nome de Jesus!


Hoje, meu filho está curado. Fez um ano de tratamento por causa das convulsões ocorridas no período de internação e, agora, tudo é passado.


Nestes momentos provamos nossa fé e afirmo que a fé de uma mãe move montanhas, abalam estruturas e movem corações. “Gahel, meu filho, orgulho-me em dizer que em meio à loucura da imensa mudança de vida com seu nascimento, Deus em sua misericórdia nos salvou. ”



Hoje, Gahel cresce em saúde e constantes alegrias. Seu desenvolvimento é pleno. Nossa família é completa. O amor renasceu.” Ao dizerem “tudo vai passar…”,  nunca consegui sentir conforto nestas palavras, mas agora, após uma das minhas maiores lições de vida, posso afirmar que “tudo vai passar…” 


Deus conhece o coração de cada mãe. Sabe de cada renúncia, de cada choro, de cada exaustão. Tenha calma. Tudo vai passar… Uma nova mulher, uma mãe renasce e nunca mais é a mesma. E que beleza infinita há nesta certeza. Eu nunca mais quero ser quem eu era, pois sou especialmente melhor com o amor que me permiti sentir nesta ligação de alma que só um filho proporciona.


As preocupações e medos ainda pairam, afinal sou mãe, mas absolutamente nada afastaria meu filho de mim. Digo que vale a pena cada segundo de sua vida ao meu lado. Meu filho Gahel, te amo eternamente! Meu anjo de luz!


 “Em tudo dai graças.” 1 Tessalocinenses 5:18
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